Dissecação de membro inferior, por Maria Eduarda Silva Varela

Introdução

O projeto de extensão em questão tem como objetivo ampliar os conhecimentos dos estudantes participantes na área das técnicas anatômicas utilizadas para dissecação de órgãos e membros com o intuito de enriquecer a experiência acadêmica dos participantes. O membro foco deste relatório é o pé, bem como, sucintamente, parte da perna. Sendo assim, a perna e o pé humano, localizados nos membros inferiores, são adaptações evolutivas bastante interessantes e relevantes, pois, apesar das semelhanças com os primos primatas, esses membros formam a base para a completa extensão da articulação do joelho, possibilitando assim uma introdução ao movimento da ereção da espinha humana, e consequentemente, esse membro passa a suportar muito mais peso e ter um papel muito mais complexo na movimentação desses indivíduos. Esse evento modificou completamente a maneira como o ser humano (Homo sapiens sapiens) passa a se adaptar e sobreviver ao ambiente em que está inserido. ( Darwin, em “A origem das espécies” de 1859).

  • Focando no pé humano.

É um membro formado por:

● 7 ossos tarsais: Tálus, Calcâneo, Navicular, Cubóide, e os Cuneiformes (medial, intermédio e lateral).

● 5 ossos metatarsais (I, II, III, IV, V)

● 14 falanges (ossos dos artelhos do pé).

Possui arcos, para melhor distribuição do peso do indivíduo, controle dos choques causados pelos impactos de andar, pular, correr e etc, bem como, flexibilidade e propulsão do membro para mudar de posição. Portanto, o arco longitudinal medial, arco longitudinal lateral, e o arco transversal, respectivamente.

Além disso, o pé conta com suas articulações, sendo as do tornozelo, tarso, metatarso, e falanges, bem como, seus músculos que podem ser intrínsecos do pé, quando estão em totalidade no próprio membro, permitindo movimentos finos e sua conformação, ou podem ser extrínsecos, quando se originam na perna e permitem movimentos amplos do membro. Articulações:

● Articulação do tornozelo: Conecta os ossos Tíbia, Fíbula e o Tálus, e permite os movimentos de extensão e flexão do pé.

● Articulação do tarso: Conecta os ossos do tarso, não possui movimento.

● Articulação do metatarso: Permite os movimentos de adução e abdução dos ossos do metatarso em relação aos ossos do tarso.

● Articulação das falanges: Permite os movimentos de flexão e extensão das falanges. Músculos: PLANTA DO PÉ

● 1º Camada plantar: Abdutor do Hálux, Flexor curto dos dedos, e Abdutor do dedo mínimo.

● 2º Camada plantar: Quadrado plantar, e Lumbricais.

● 3º Camada plantar: Flexor curto do Hálux, Adutor do Hálux, Flexor do dedo mínimo.

● 4º Camada plantar: Interósseos plantares. DORSO DO PÉ

● 1º Camada dorsal: Interósseos dorsais.

● 2º Camada dorsal: Extensor curto dos dedos, e Extensor curto do Hálux.

Músculos:

  • PLANTA DO PÉ

● 1º Camada plantar: Abdutor do Hálux, Flexor curto dos dedos, e Abdutor do dedo mínimo.

● 2º Camada plantar: Quadrado plantar, e Lumbricais.

● 3º Camada plantar: Flexor curto do Hálux, Adutor do Hálux, Flexor do dedo mínimo.

● 4º Camada plantar: Interósseos plantares.

  • DORSO DO PÉ

● 1º Camada dorsal: Interósseos dorsais.

● 2º Camada dorsal: Extensor curto dos dedos, e Extensor curto do Hálux.

Materiais e métodos

● Tesoura iris

● Bisturi

● Lâminas 13 e 15

● Pinça histológica

● Pinça anatômica

● Pinça dente de rato

  Dissecação e resultados

  • Dissecação do Dorso

Com o auxílio da tesoura íris e da pinça anatômica, comecei a retirar o tecido conjuntivo, a fáscia e o tecido adiposo que estavam sobrepostos aos vasos sanguíneos, retináculos e tendões. Devido a grande quantidade de tecido adiposo presente foi preciso de duas a três semanas para que a maior parte fosse retirada permitindo uma melhor visão dos vasos sanguíneos, enquanto que, para os tendões e retináculos foi necessário uma semana para a retirada da fáscia permitindo uma melhor visualização dos mesmos.

A primeira estrutura notável no dorso do membro é o Plexo venoso superficial, formando um arco perceptível mesmo sem a retirada completa da fáscia e tecidos conjuntivos sobrepostos ao mesmo indicado na figura 1, na figura 2 é possível ter a visão lateral do Plexo, enquanto que, na figura 3 é possível ter a visão medial do mesmo juntamente com a identificação da veia Safena magna.

figura 1- Plexo venoso superficial do dorso.

figura 2 – Visão lateral do Arco venoso superficial do dorso.

figura 3 – Visão medial do Plexo venoso dorsal e identificação da veia Safena magna.

Nas figuras acima, é importante notar que a sobreposição de fáscia, alguns vasos sanguíneos, e nervos impossibilita a completa visualização dos tendões dos músculos extensor longo dos dedos, extensor longo do hálux, e extensor curto do hálux. Portanto, para ser possível a identificação dessas estruturas descolei os vasos sanguíneos e nervos utilizando uma tesoura íris e com um bisturi retirei a fáscia sobreposta aos mesmos. Na figura 4 é possível observar os tendões abaixo das fáscias, enquanto que, nas figuras 5 e 6 as fáscias foram retiradas permitindo uma melhor visualização dos tendões.

figura 4 – Tendões do músculo extensor longo dos dedos cobertos por fascia.

figura 5 – 1. Tendões do músculo extensor longo dos dedos expostos, e 2. Tendão do músculo extensor longo do Hálux exposto.

figura 6 – Tendão do músculo extensor curto do Hálux.

  Dissecação de veias, nervos e retináculos. 

  • Veias

As veias são vasos sanguíneos responsáveis por carregar o sangue que já teve suas propriedades metabólicas utilizadas pelos órgãos e membros, principalmente o gás oxigênio (O2) carregado pelas artérias, e portanto se tornam ricas em gás carbônico (CO2). O intuito desse processo de “drenagem” do sangue desoxigenado é transportar o mesmo de volta ao coração para que possa ser transportado aos pulmões através da artéria pulmonar e ser reoxigenado, o que gera um grande processo de reciclagem sanguínea. Portanto, no caso do membro foco do relatório, as veias carregam o sangue que foi desoxigenado pelos tecidos conjuntivo, muscular e epitelial. Para a dissecação dessas estruturas utilizei o bisturi de lâmina 15, a tesoura íris, e a pinça histológica. Como foi introduzido no tópico acima, a maior veia notável para dissecação é a Safena magna, disponível na figura 7, localizada na face medial do membro inferior, essa veia é formada pelo Arco venoso dorsal e pela veia dorsal do hálux, e drenada para a veia femoral.

figura 7 – Veia safena magna.

Após a dissecação da safena magna, com o auxílio de bisturi de lâmina 15, e a pinça histológica, retirei o tecido conjuntivo sobreposto ao Arco venoso dorsal, pertencente ao Plexo venoso superficial, disponível nas figuras 1 e 2. Desse mesmo arco, originam-se as veias metatarsais, as veias dorsais do hálux, do dedo mínimo e dos demais dedos do membro, bem como, as veias digitais. Na figura 9, é possível identificar as veias metatarsais, apenas, pois as demais estão abaixo do tecido epitelial e conjuntivo dos dedos.

figura 8 – Arco venoso dorsal.

figura 9 – Veias metatarsais dorsais.

Posteriormente, com o auxílio de bisturi com lâmina 15 e a pinça histológica, retirei o tecido lipídico e o tecido conjuntivo sobreposto a formação da veia Safena parva, formada pelo arco venoso dorsal e pela veia dorsal do dedo mínimo e drenada para a fossa da veia poplítea. Na figura 10 é possível visualizar a Safena parva, bem como o plexo que origina a sua conformação, em visão lateral.

figura 10 – 1.Ramo formador da Safena parva, 2.Safena parva. Visão lateral.

  • Retináculos

Os retináculos são espessamentos das fáscias que recobrem os tendões e os músculos. No membro foco, são observados dois retináculos, espessamentos da fáscia crural: o retináculo superior dos músculos extensores (estendido entre a tíbia e a fíbula) e o retináculo inferior dos músculos extensores, com formato em “Y” (estendido entre o calcâneo, o maléolo medial e a aponeurose plantar). Ambas as estruturas são importantes para um sistema de ancoragem dos músculos anteriores dos membros inferiores uma vez que mantém os tendões todos em um mesmo ponto, próximos ao tornozelo. Na figura 11, em vista frontal, estão indicados ambos os retináculos citados, enquanto que, na figura 12 é possível ter uma visualização lateral dos mesmos, nota se que o retináculo inferior dos músculos extensores está parcialmente recoberto pelo plexo venoso formados da veia Safena parva.

figura 11- 1. Retináculo inferior dos músculos extensores, 2. Retináculo superior dos músculos extensores. Vista frontal.

figura 12 – Vista lateral dos retináculos, e parte da formação da veia Safena parva.

  • Dissecação da planta

A planta do pé é uma região com grande acúmulo de tecido adiposo devido a sua sobrecarga, pois, todo o peso do corpo do indivíduo é sobreposto à região plantar do membro que deve aguentar grande pressão garantindo a estabilização necessária para caminhar, pular, correr e etc. Com o auxílio de uma pinça dente de rato e um bisturi lâmina 13, descolei o tecido epitelial da planta com o intuito de atingir o tecido adiposo. Após isso, retirei o tecido adiposo utilizando um bisturi lâmina 15, pinça anatômica e tesoura íris. Abaixo do tecido adiposo, é possível reconhecer a aponeurose plantar, disponível na figura 13, a fáscia plantar lateral, disponível na figura 14.

figura 13 – Aponeurose plantar.

figura 14 – Fáscia plantar lateral.

Conclusão

Em conclusão, o membro inferior em questão estava com suas estruturas anatômicas bem conservadas, apesar de externamente apresentar sinais de necrose nas extremidades dos dedos. O projeto “O uso das técnicas anatônicas como aperfeiçoamento do ensino e aprendizagem em anatomia proporciona experiências valiosas para estudantes ingressantes no estudo das ciências morfológicas.

O atual membro foi disponibilizado em eventos acadêmicos de extensão, e será peça para uso de monitores das disciplinas de anatomia do Centro de ciências morfológicas.