Dissecação de Sagui (Callithrix sp.), por Valenthina Baptistoti Sá.
O seguinte projeto teve seu início dia 24 de setembro de 2024, após recebimento de uma mensagem informando sobre o falecimento de um sagui próximo à Biblioteca Universitária, na UFSC. A coleta foi realizada, seguida do congelamento do animal, para que ficasse conservado até a decisão da técnica que seria utilizada no projeto.
Optamos por utilizar uma técnica de maceração mecânica, onde o cozimento é pouco ou não utilizado, focando na retirada da pele/pelos, músculos e cartilagens de forma manual, buscando preservar as articulações, com o auxílio de instrumentos de dissecação (para o sagui, foram utilizadas uma pinça anatômica, um bisturi com lamina 15 e uma tesoura íris). O objetivo era que o esqueleto se mantivesse preservado, facilitando a montagem e o posicionamento da espécie para uso didático e como acervo do museu anatômico.
Começamos o descongelamento e retirada do couro no dia 07 de outubro. Em primeira vista o animal se encontrava em condições normais, acreditávamos que poderia ter falecido de alguma queda ou doença. Com uma avaliação mais sucinta e com o caminhar da dissecação, pudemos perceber que o crânio estava fraturado em diversas partes. Decidimos continuar o processo e fazer uma nova avaliação mais para frente, para decidir como faríamos a montagem para a exposição.
No dia 15 de outubro, demos continuidade à dissecação, iniciando o processo de evisceração e movimento inicial de retirada dos músculos maiores e de acesso mais fácil, pois, como estávamos fazendo um processo manual, existia maior risco de riscar os ossos ou remover uma articulação acidentalmente. Dessa forma, focamos nos músculos dos membros superiores e inferiores, seguindo para a musculatura do tórax e das costas, locais mais delicados e com uma necessidade maior de atenção e cuidado no processo, sendo preciso fazer a raspagem dos músculos que havia sobrado do processo inicial, nos aproximando o máximo possível da ossada.
Nesse processo, que durou aproximadamente até dia 20 de outubro, tivemos que desarticular os ossos do quadril, pois esses estavam presos apenas por musculatura, diferente dos ossos dos braços, que se mantiveram presos pelas articulações dos ombros e das clavículas (como é possível perceber na última foto acima). Conseguimos avaliar também, de forma mais minuciosa, a extensão da fratura cranial, que acreditamos ter acontecido devido a um atropelamento por bicicleta ou patinete. Decidimos desarticular os fragmentos para fazer uma posterior reconstrução, assim que o esqueleto estivesse seco e posicionado.
Com a musculatura, em sua grande parte, retirada, iniciamos um processo rápido de cozimento em cloro (apenas para que os músculos que ainda ficaram grudados nos ossos, amolecessem e se soltassem) e para que pudéssemos começar o processo lento, mas necessário, do clareamento dos ossos. O esqueleto foi mergulhado por alguns segundos em uma solução de cloro e água à 80 °C, soltando o restante da carne (que foi retirada com o auxílio da pinça), sem soltar as articulações, e, após esse cozimento, colocamos o animal em uma solução de cloro (50ml), período de hidrogênio (100ml) e água (1L), solução que chamamos de clareadora, responsável por deixar o esqueleto branco. Acompanhamos de perto o clareamento, para que não houvesse desmineralização dos ossos e, assim, não perdermos o trabalho feito até o momento.
Após o clareamento feito, no dia 30 de outubro, retiramos o esqueleto da solução e, com ele ainda úmido, iniciamos o processo de montagem. Para fazê-lo foi utilizado cola SuperBonder, linha, arames, pinças para as estruturas menores, um bloco de isopor e o tablado que ficará para exposição, composto de madeira e um galho de árvore real. Para fazer o posicionamento, aproveitamos que o esqueleto ainda se encontrava maleável e colocamos na posição desejada (4 apoios com o rabo levantado) e, com o auxílio dos arames, sustentados pelo isopor, mantivemos o animal na posição. As patas foram amarradas ao galho e assim aguardamos a secagem completa, para que o esqueleto ficasse estável.
Com ele seco, no dia 03 de novembro, colamos boa parte do crânio, mas, devido a extensão das fraturas, só foi possível recuperar e reconstruir um pouco mais da metade dos fragmentos. Optamos por deixar dessa forma, sem cobrir os buracos com massa de biscuit, para que sirva como material de estudo e avaliação da gravidade que um acidente como esse pode causar (além de considerarmos visualmente interessante para os visitantes do museu).
Também realizamos a colagem das patas com cola, a retirada dos arames, do isopor e das amarras e, para finalizar, passamos uma camada generosa de esmalte top coat, para evitar que puxasse umidade e a possível formação de fungos. Dessa forma, o material ficou padronizado e pronto para exposição no museu de anatomia do laboratório.